Queimadas e Saúde Infantil: Riscos, Sintomas e Cuidados Respiratórios com Dicas do Dr. Mário Carpi
As queimadas têm sido um problema crescente no Brasil, afetando não só o meio ambiente, mas também a saúde da população, especialmente das crianças. Segundo o Dr. Mário Carpi, coordenador da Pós-Graduação em UTI Pediátrica e Neonatal do IBCMED, os efeitos da fumaça das queimadas no sistema respiratório infantil podem ser graves e variam conforme o tempo e a intensidade da exposição. “Os efeitos variam de pessoa para pessoa e dependem do tempo de exposição à fumaça. Em geral, pode ocorrer dor e ardência na garganta, tosse seca, cansaço, falta de ar, dificuldade para respirar, dor de cabeça, rouquidão, lacrimejamento e vermelhidão nos olhos”, explica o médico.
O Aumento de Crises Respiratórias Durante as Queimadas
Dados recentes apontam para um aumento significativo de crises respiratórias em crianças durante a temporada de queimadas. Dr. Mário destaca a importância de os pediatras estarem preparados para esse aumento. “Os quadros respiratórios vão aumentar, com atenção especial àqueles que podem representar ameaça à vida, como as crises graves de asma, por exemplo. É preciso estar preparado e literalmente lutar para que os serviços de saúde estejam adequadamente estruturados para receber e tratar essas crianças”, alerta.
As crianças com doenças respiratórias crônicas, como asma e rinite alérgica, estão entre as mais afetadas pela fumaça das queimadas. Elas podem sofrer descompensações agudas e agravamento dos quadros clínicos. “As crianças portadoras de doenças respiratórias crônicas, como asma e rinite alérgica, e lactentes sibilantes são as mais afetadas”, afirma o Dr. Mário, ressaltando que o reconhecimento precoce dos sintomas e o tratamento adequado são essenciais para evitar complicações graves.
Principais Sinais Clínicos em Crianças Expostas à Fumaça
Os sintomas clínicos em crianças expostas à fumaça podem ser variados. O Dr. Mário Carpi destaca os sinais mais comuns: “Tosse, rouquidão e dificuldade para respirar. Nas crianças menores, deve-se estar atento para o aumento da frequência respiratória.” Ele explica que, além desses sinais, o desconforto respiratório pode ser identificado por tiragem subcostal, intercostal e de fúrcula, indicando um aumento do trabalho respiratório.
Crianças menores de 2 anos, especialmente as com menos de 1 ano de idade, são particularmente vulneráveis. “Elas têm menos reservas e podem evoluir para insuficiência respiratória mais rapidamente”, alerta. Os sintomas podem surgir imediatamente após a exposição ou até 24 horas depois, o que exige atenção contínua dos pais e dos profissionais de saúde.
Diagnóstico e Exames Complementares
Quanto ao diagnóstico, o Dr. Mário destaca que, em muitos casos, não são necessários exames complementares para identificar os quadros causados pela fumaça. “O importante é reconhecer e tratar prontamente os quadros graves. Um raio-X de tórax pode ajudar a diferenciar quadros obstrutivos de vias aéreas inferiores daqueles em que há comprometimento do parênquima pulmonar, como as pneumonias e pneumonites”, explica. O exame físico detalhado é geralmente suficiente para essa diferenciação, mas em situações mais complexas, como na asma, a espirometria pode fornecer informações sobre a gravidade e a resposta ao tratamento, embora não esteja amplamente disponível em emergências pediátricas.
Tratamento e Abordagens Terapêuticas
Para o tratamento, Dr. Mário recomenda diferentes abordagens conforme a gravidade dos sintomas apresentados pela criança. Ele ressalta a importância da hidratação e da umidificação das vias aéreas como medidas básicas. “Broncodilatadores na forma de sprays com máscara e espaçador, bem como corticosteroides inalatórios, por via oral ou até mesmo parenteral, a depender da gravidade da crise”, sugere.
No caso de obstrução das vias aéreas superiores, Dr. Mário é enfático: “Deve-se prescrever inalação com adrenalina e não broncodilatadores, além da aplicação de corticoide oral ou intramuscular, dependendo da gravidade.”
Oxigenoterapia em Pacientes Pediátricos
Em relação à oxigenoterapia, o manejo precisa ser cuidadoso. “Utilizar a menor concentração de oxigênio suplementar para manter a chamada ‘normóxia’, ou seja, saturação de oxigênio entre 92% e 97%”, explica. Ele ressalta que não é necessário manter a saturação acima de 97% e alerta sobre o perigo das altas concentrações de oxigênio, que podem aumentar a formação de radicais livres e amplificar a resposta inflamatória.
Medidas Preventivas para Pais e Cuidadores
A prevenção é uma das principais aliadas para evitar que as crianças sofram com os efeitos da fumaça das queimadas. Dr. Mário orienta que, em áreas críticas, é importante manter a casa fechada para minimizar a entrada de fumaça. “Além disso, é fundamental manter o ambiente umidificado. O uso de umidificadores pode ser útil, e lavar o nariz com soro fisiológico pode ajudar a manter as vias aéreas superiores limpas e úmidas”, recomenda.
Cuidados para Crianças com Condições Preexistentes
Para pacientes pediátricos com comorbidades, como asma ou doenças pulmonares crônicas, o acompanhamento contínuo é vital, especialmente durante a temporada de queimadas. “O tratamento de manutenção, com o intuito de evitar crises agudas e descompensação respiratória, é a base para evitar problemas”, reforça o Dr. Mário. O uso de corticoides inalatórios em doses adequadas é um método eficiente para o controle da doença.
Mantendo-se Atualizado
Para finalizar, o Dr. Mário destaca a importância de uma boa formação médica e da atualização contínua para os médicos. “A partir daí, a atualização hoje em dia é bem mais fácil, pois artigos e livros estão disponíveis em nossos smartphones”, comenta, ressaltando a importância de estudar sempre e trocar experiências com outros profissionais.
A exposição à fumaça de queimadas representa um risco significativo para a saúde infantil. Com a orientação do Dr. Mário Carpi, fica claro que o reconhecimento precoce dos sintomas, o tratamento adequado e a prevenção são fundamentais para proteger as crianças durante as temporadas de queimadas. Além disso, a necessidade de uma estrutura de saúde mais preparada é um ponto crucial para enfrentar esse problema de saúde pública.