Vivemos tempos de enormes paradoxos. Tememos os horrores da violência em suas várias formas, mas ao mesmo tempo nunca estivemos tão protegidos. Vivemos o tempo de acesso a muita informação, mas talvez nunca estivemos tão desinformados. Temos grande oferta de alimentos, mas ao mesmo tempo convivemos com o fantasma da obesidade e suas consequências nefastas. Vivemos tempos de grande mobilidade, mas nunca estivemos tão presos a nossos dispositivos eletrônicos.
Vivemos o tempo de grandes avanços na Medicina, mas criamos cada vez problemas maiores com nosso sedentarismo e obesidade, buscando pílulas milagrosas para curar muitos males que o simples respeito ao bom comer e ao movimento poderiam ter evitado. É sobre esse aspecto que falaremos, é a esse tema que se reporta a Medicina do Esporte e do Exercício (MedEsEx)
Em um primeiro momento, quando falo que sou especialista em MedEsEx, logo me perguntam se tratei de algum jogador de futebol famoso. Lamento informar, mas o mais próximo que estive de um jogador de futebol foi a distância que separa o torcedor do gramado.
Entretanto, tratei e trato de uma legião de praticantes de esportes e exercícios físicos em meu cotidiano. Temos quase um milhão de praticantes de corrida de rua no Brasil. Somos o segundo país no mundo em número de academias, que vão desde as grandes redes até os pequenos estúdios. São estes atletas anônimos, são estas pessoas que buscam manter uma boa saúde ou uma boa aparência que formam o meu público. Fico feliz podendo ajudá-los.
Um leitor mais distraído aqui diria em tom jocoso: “Virou professor de Educação Física?” Não, continuo médico e me sinto cada vez mais médico, ajudando a prevenir a doença ao invés de só tratá-la. Voltemos a fita (papo de velho).
Em sua formação, o médico é educado para tratar doenças, muito pouco se fala sobre prevenção e, instalada a doença, nada é dito sobre o equilíbrio orgânico, apenas aprendemos como utilizar o arsenal terapêutico de que dispomos e que cresce a cada minuto, enfeitiçando médicos e pacientes com os prodígios que a Medicina atual faz.
Buscando a definição de saúde, encontramos no dicionário Houaiss algo como “Saúde é um estado de equilíbrio dinâmico do indivíduo com seu meio interno e o ambiente”. Portanto, a meu ver, a palavra-chave é equilíbrio.
Nosso organismo foi moldado ao longo de centenas de milhares de anos em um esquema de equilíbrio entre o movimento e o repouso. Nossos ancestrais eram caçadores-coletores, andavam em média trinta quilômetros por dia e, tendo o alimento, descansavam, preparando-se para o próximo dia. Mesmo com o advento da agricultura, há 12-15 mil anos, persistia a rotina de alternar períodos de trabalho e movimento intenso com o repouso. Passada a revolução industrial e advinda a revolução tecnológica, alternamos períodos de repouso com outros períodos de repouso. Entramos em desequilíbrio, ficamos doentes.
Aqui entra a MedEsEx, com sua vocação, tanto de recurso educativo, terapia preventiva ou ferramenta auxiliar no tratamento da doença. Temos assim a chance de atuar com grupos distintos: o atleta profissional, o atleta amador, competitivo, o atleta amador não competitivo, o indivíduo que se exercita buscando manter a aparência, aquele que se exercita para manter a saúde e aquele que se exercita para recuperar a saúde.
Então temos um público imenso, certo? Não sabemos. Estatísticas nunca foram o forte nesse nosso Brasil, com número de corredores de rua (não incluindo academias, ciclistas e outros esportes), variando entre 500.000 e 4.500.000. Podemos ficar com um número mais realista de 1 milhão de corredores de rua, número não desprezível, mas que soma somente 0,5% da população.
E qual o papel da MedEsEx? Atuar não só junto a esse segmento da população, mas também em clubes e, principalmente, junto com a população geral em um trabalho de orientação, educação e preparo, para que o indivíduo possa praticar seu esporte ou exercício com segurança. Futuramente, voltaremos detalhando a atuação do especialista em Medicina do Esporte e do Exercício nos vários segmentos em que atua. Até breve!
Fonte: Dr. Mauro Walter Vaisberg, coordenador do curso de Pós-Graduação lato sensu em Medicina do Esporte do IBCMED