Às vésperas de iniciar as aulas do nosso MBA de Gestão e Inovação em Medicina, a Faculdade IBCMED apresenta uma entrevista exclusiva, realizada com o nosso professor convidado, o Prof. Doutor Luís Velez Lapão, direto de Portugal (mantendo, inclusive, a escrita original de seu texto). Ele é Professor Doutor em Saúde Pública Internacional (Universidade Nova de Lisboa), possui doutorado em Engenharia de Sistemas pela Universidade Técnica de Lisboa e é conhecido em vários países quando o assunto é Telemedicina. Acompanhe, abaixo, a entrevista completa:
IBCMED – Como o senhor, que defende a implantação de soluções em telessaúde em países de Língua Portuguesa, avalia a evolução deste segmento? Especialmente em Portugal e no Brasil?
Prof. Dr. Luís Lapão – Como membro do Grupo Técnico da Telemedicina da CPLP, participei na construção de um roteiro apresentado na III Reunião de Ministros da Saúde da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) realizada em Maputo em 2014, em que os Ministros da Saúde afirmaram o compromisso de promover o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) para o acesso universal a cuidados de saúde de qualidade, a custos sustentáveis. Para tal é preciso fazer um diagnóstico das capacidades existentes nos países, uma análise do uso potencial da telessaúde e um conjunto de recomendações de curto-médio prazo para que os países da CPLP possam desenvolver suas estratégias nacionais no uso das TIC e mais especificamente para o uso da telessaúde.
Os Estados membros da CPLP têm uma larga experiência no uso das TIC para telessaúde especialmente na educação à distância e na prática de vídeo/webconferências. Contudo o seu potencial está longe de ser totalmente aproveitado e identificam-se muitas oportunidades de cooperação como forma de alavancar o seu uso. Recomendações para potenciar a telessaúde no âmbito da CPLP são: 1. Promover mais a educação de técnicos de telessaúde, potenciando o ensino à distância; 2. Aplicar as melhores práticas das TIC na saúde para tornar os serviços de saúde mais acessíveis, sustentáveis e disponíveis; 3. Apoiar o uso da telessaúde na promoção do acesso universal da saúde; 4. Promover a ligação entre as instituições de ensino superior e investigação, e unidades de saúde em redes de alta velocidade; 5. Promover o uso da telessaúde na Saúde Pública, vigilância em saúde, na promoção e prevenção da saúde, emergências sanitárias e pesquisas multicêntricas.
IBCMED – O uso da Telemedicina e de outras “ferramentas” digitais no atendimento à Saúde já é uma realidade no mundo?
Prof. Dr. Luís Lapão – O uso das tecnologias de comunicação em saúde já vem desde os primeiros telefones, tendo-se tornado tecnologia de ponta aquando a viagem do Homem à Lua, onde se incluíram sensores de batimento cardíaco e de oxigénio. Portanto estamos a falar de algo que, hoje com as redes móveis e a internet, tem um potencial enorme.
Contudo, o desafio da saúde digital não é tecnológico, mas sim organizacional e de plano de negócio. Como posso organizar os serviços de saúde para potenciar o canal digital para prestar serviços de saúde a custos mais econômicos? Quase todos os países fazem já uso de telemedicina de forma alargada. Portugal, Noruega, Reino Unido e Cabo Verde, por exemplo, já têm Centros Nacionais de telemedicina.
Estes centros estão a “fazer a ponte” com os serviços de saúde para ajudar a construir serviços digitais que possam promover a cobertura universal à saúde. Cada dia surgem novos serviços e novas oportunidades. Estamos numa área em grande dinâmica de inovação: da segunda opinião ao monitoramento de doentes crónicos.
IBCMED – Aliás, como o senhor, cujo estudo tem como meta promover o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) para cuidados de saúde de qualidade, a custos sustentáveis, percebe esta situação? Já está sendo viável? Ou só para os países mais ricos?
Prof. Dr. Luís Lapão – São os hospitais privados e as seguradoras que estão a puxar mais pela telessaúde, pois já fizeram as contas e viram o benefício. A seguir vem os estados com serviços Nacionais de saúde, como a Inglaterra, Noruega e Portugal. O Brasil é, portanto, um candidato muito relevante para o uso alargado da telessaúde.
IBCMED – E para quem deseja ingressar nesta área? O senhor avalia que o segmento seguirá próspero e em evolução constante?
Prof. Dr. Luís Lapão – Este é dos segmentos mais dinâmicos e promissores, pois muitas oportunidades vão surgir. Mas será preciso ser profissional no desenvolvimento do serviço e no uso inteligente da tecnologia. Pois há muitas tecnologias que não estão a funcionar e que são apenas resultado de mau marketing. O desafio está no processo de seleção da tecnologia que melhor serve a demanda.
IBCMED – Quais são as oportunidades de trabalho, especialmente para o médico brasileiro que apostar em uma pós-graduação ou MBA com este enfoque? Deixe uma mensagem para este tipo de profissional.
Prof. Dr. Luís Lapão – Caros Profissionais. A Saúde Digital é o futuro, e ainda estamos no início da caminhada. Precisamos de talento para desenvolver planos de negócio e de lideranças para desenvolver novos serviços digitais.
Uma formação em MBA especializado em saúde e inovação ajuda a desenvolver competências e a conectar com os actores mais importantes da saúde: provedores de serviços e de tecnologia, financiadores, usuários, etc. A saúde digital será uma rede de serviços dinâmicos e complementares, que carecem de modelos de negócio inovadores e dinâmicos que envolvem com inteligência o usuário, ajudando-o a cuidar melhor da sua saúde.
O potencial é enorme, mas o desafio não é menor. Com um MBA estará preparado para agarrar esta oportunidade e de trabalhar com os melhores especialistas no assunto. Precisamos muito do vosso talento para ajudar a fazer crescer a saúde digital.