O câncer infantil corresponde a 3% dos cânceres que acometem o ser humano, sendo que, no Brasil, são diagnosticados 12.000 casos novos a cada ano, na faixa compreendida desde o nascimento até completar 18 anos. Apesar do excelente prognóstico, chegando a 80% de cura para os casos diagnosticados precocemente, as taxas no país são inferiores, um pouco acima de 50%, pois, infelizmente, existe uma demora maior no tempo decorrido entre o tempo de aparecimento de sintomas e o início do tratamento específico nos hospitais especializados no tratamento desta rara doença. Isso decorre de alguns fatores, principalmente do fato dos sinais e sintomas mimetizarem os de outras doenças corriqueiras na infância, o desconhecimento dos principais sinais de alerta por parte dos familiares e por parte da classe médica e do medo de pensar em diagnosticar um câncer na criança pelo estigma que a palavra “câncer” carrega consigo.
Por isso, cursos como esse são ótimos para esclarecer de uma forma clara e completa tudo relacionado à epidemiologia, etiopatogenia, modernos conceitos de biologia e genética do câncer, principais sinais e sintomas de alerta, principais tipos de câncer infantil, as formas mais modernas e importantes de tratamento, práticas tão necessárias de medicina integrativa que colaboram em muito com a melhoria durante todo o período difícil do tratamento, práticas de nutrição tão necessárias para melhorar as condições clínicas do doente e também cuidados com os pacientes, fora de terapia, e, quando não é mais possível a cura, a importância dos cuidados paliativos tão importantes para dar uma qualidade de vida melhor para os pacientes incuráveis. Dia 15 de fevereiro último foi o Dia Internacional do Combate ao Câncer Infantojuvenil, e gostaria de chamar a atenção para a importância do diagnóstico precoce do câncer na criança, através do conhecimento dos sintomas e sinais de alerta que fazem pensar na possibilidade de câncer.
Hematomas e equimoses de aparecimento rápido associadas à palidez cutânea e febre por mais de uma semana que não melhora com as medicações prescritas podem sugerir Leucemia Aguda, que é o câncer da medula óssea. Cefaléia (dor de cabeça) que dura mais de uma semana e só vai piorando e não melhora com analgésicos, associada a vômitos e, em algumas vezes, à alteração da marcha ou do comportamento e que faz a criança deixar de brincar, pode-se pensar em tumores do Sistema Nervoso Central. Aumento progressivo de gânglios linfáticos (as chamadas ínguas) que não estão associados a processos infecciosos e possuem características de serem indolores, endurecidos e aderidos, distribuídos em diferentes localizações do corpo e que perduram por mais de duas semanas, pensar em linfomas. Aumento do volume abdominal e observação de uma massa (tumor) na barriguinha da criança, pensar em tumores abdominais malignos (neuroblastoma e nefroblastoma). Já o aparecimento de uma mancha esbranquiçada na pupila, quando exposta à luz, conhecida como reflexo do olho do gato (leucocoria), pensar em retinoblastoma.
Estes são apenas alguns exemplos, mas existem muitos outros. É importante lembrar que para o câncer na infância não existe a prevenção primária como no adulto, onde as mudanças para hábitos saudáveis como não fumar, alimentar-se bem, praticar esportes e proteger a pele podem evitar o aparecimento de diferentes tipos de câncer. Na infância, como salientado no início, o principal fator para determinar um bom prognóstico é o diagnóstico precoce e pronto encaminhamento para hospitais e clínicas especializadas no diagnóstico e tratamento dessas graves doenças da infância que, FELIZMENTE, quando se faz o diagnóstico o mais rápido possível, chega-se a níveis alvissareiros, acima de 80% de cura, além de permitir que sejam realizados procedimentos cirúrgicos ou complementares menos invasivos, diminuindo a chance de acontecerem sequelas indesejáveis e permanentes.
Então, fiquemos atentos à presença ou permanência desses sinais e sintomas e, na dúvida, procure o seu pediatra ou hospital o mais rápido possível. Todos juntos no combate ao Câncer Infantojuvenil!!!
Dr. Roberto Plaza é coordenador
do curso de Pós-Graduação em
Oncopediatria da Faculdade IBCMED,
hematologista e oncologista pediátrico