Os sintomas do Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade são causa comum de busca de ajuda por pais, e de encaminhamento para avaliação e tratamento pelas escolas. Com muita dificuldade de se concentrarem em aulas, conversas ou leituras, grande inquietude corporal que interfere com aulas, conversas ou tarefas, e impulsividade que torna difíceis às interações sociais e a adesão às regras escolares, familiares e sociais, o TDAH impacta sobre a execução, a qualidade e a conclusão das tarefas e deveres, por esquecerem de realizá-las do início ao fim, e não atentarem para detalhes, cometendo erros impensáveis.
A desorganização dos materiais de trabalho ou de estudo, da agenda, perda de materiais, livros, pastas, etc, leva a despender sempre muito tempo tentando localizar o que precisa. A hiperatividade se caracteriza pela incapacidade de ficar tranquilo, quieto, com o corpo todo, as mãos, os pés ou os dedos sempre em movimento. A impulsividade leva a explodir respostas antes do fim das perguntas, ou a reações precipitadas antes de ter os elementos para compreender o que se espera dele ou dela, ou qual a atitude mais apropriada no contexto. Na sala de aula, levantar-se da carteira e caminhar pela sala de aula em momentos em que isso não é aceitável. Em outros contextos, não conseguir manter a atitude serena e compenetrada exigida – como em aulas de educação física, reuniões diversas, brinquedos mais serenos.
No recreio ou no lazer, comumente se mostra excessivamente agitado, correndo, trepando, provocando inocente, mas inapropriadamente os colegas num ritmo claramente exagerado em relação aos pares de mesma idade.
Os sintomas podem prejudicar a aprendizagem, as notas e os relacionamentos, frustrar expectativas dos pais, e representar uma fonte de interferência no ambiente escolar, institucional ou laboral, levando a reaçōes de reprovação e até de maus-tratos/bullying por professores, colegas e outros, sendo assim fonte de angústia e insegurança.
Em consequência, podem-se desenvolver comportamentos de evitação escolar, social, recusa
de compromissos que exigirão especial compostura ou concentração, quadros depressivos, episódios de violência, automutilação ou, mesmo, tentativas de suicídio e suas consequências.
O diagnóstico de TDAH deve ser considerado quando nenhuma outra causa parece capaz de explicar as dificuldades, como, por exemplo, transtornos do sono (insônia, sono “agitado”), certos quadros discretos de epilepsia, síndromes do tique (Gilles de la Tourette), pernas inquietas, lesões ou disfunções Neuropsiquiátricas várias (sequelas de traumatismo craniano, hipoxia neonatal, exposição a drogas lícitas ou ilícitas na gestação, outros agentes neurotóxicos – inseticidas, metais pesados, e neuroinfecções), outros transtornos psiquiátricos (depressões, mania, ansiedades, toc, psicoses, etc), espectro autista (Asperger), deficiência mental, ou, ao contrário, inteligência super-dotada, e assim necessitarem de tratamentos muito diferentes, não raro opostos. A característica prolongada, crônica, dos sintomas ajuda a descartar quadros sintomáticos recorrentes, cíclicos, ou circunstanciais, mas não outros que igualmente se estendem no tempo do mesmo modo como o TDAH.
Uma aparência de TDAH pode indicar ainda exigências cognitivas ou contensivas inapropriadas para a idade ou o desenvolvimento da criança, inadequações didático-pedagógicas, clima escolar/organizacional deteriorado – violência, calor, ruído, bullying – ou circunstâncias familiares e pessoais estressantes ligadas à doença, finanças, moradia, fome, etc,
A testagem psicológica poderá ser útil, ou não.
A avaliação e o suporte neuropsiquiátrico, psicológico e social são precondição para o tratamento adequados, assegurando um melhor desenvolvimento, rendimento e, principalmente, uma melhor experiência face à vida de cada criança, adolescente e, até mesmo, adulto, que apresentam sintomas que lembram o TDAH.
Fonte: Dr. Sander Fridman é neuropsiquiatra, psicanalista cognitivista e perito psiquiátrico forense, além de professor do curso de Pós-Graduação lato sensu em Psiquiatria da Faculdade IBCMED.