Nos últimos dias, as redes sociais repercutiram um vídeo sobre um tratamento dito inovador de câncer de mama, chamado de “crioablação”. Neste vídeo, o método é apresentado como sendo um novo tratamento em que a necessidade da retirada das mamas (mastectomia) e o uso de quimioterapia não serão mais necessários em pessoas com câncer de mama.
O uso da “crioterapia” remonta ao século XIX, as soluções salinas eram resfriadas a temperaturas entre -18 e -24 e usadas para tratar tumores na região da mama e colo uterino (1). Este método já foi estudado em tratamento de fibroadenomas (nódulos benignos mais comuns), com estudos apontando redução de quase 80% do tamanho.
Estudo recente (fase II) avaliou a “crioablação” no tratamento do câncer de mama. O “endpoint” primário (resultado principal do estudo) foi avaliar a taxa de ablação completa do tumor (ausência de neoplasia invasiva ou in situ na mama). Foram incluídas 87 pacientes neste estudo com tumores com cerca de 1,0 cm. Os resultados mostraram 75,9% de resposta completa nas pacientes e, quando o tumor era menor que 1,0 cm, a taxa chegou a 100% (3).
Uma meta-análise recente com 1.156 pacientes avaliou diversas formas de ablações radioguiadas para o tratamento do câncer de mama (“crioablação”, radiofrequência, laser, micro-ondas e ultrassonografia de alta frequência e intensidade). A conclusão deste estudo mostrou que a “crioablação” foi o melhor método entre os estudados, com taxa de sucesso de 93% e taxa de complicações de 2% (4).
Portando, a “crioablação” é um método experimental promissor para o tratamento do câncer de mama inicial e ainda não deve ser utilizado fora de estudos clínicos. Estudos a longo prazo são necessários para se determinar o real benefício do método. O câncer de mama é uma doença sistêmica desde o início e, portanto, o tratamento local habitualmente é associado a outros tratamentos como radioterapia, hormonioterapia e, em muitos casos, quimioterapia. A “crioablação” não deve mudar este cenário uma vez que é responsável apenas pelo tratamento local.
Fonte: Dr. André Mattar é professor titular da Pós-Graduação lato sensu em Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade IBCMED
Referências:
- Arnott J. Ilustrações práticas da eficácia corretiva de uma temperatura muito baixa ou anestésica. I. Em câncer. Lancet 1850; 2: 257-259
- Edwards MJ, Broadater R, Tafra L. et al. Adoção progressiva da terapia crioablativa para fibroadenomas de mama na prática comunitária. Am J Surg 2004; 188: 221-224.
- Simmons RM, Ballmann KV, Cox C e outros. Um ensaio de fase II explorando o sucesso da terapia de crioablação no tratamento do carcinoma invasivo da mama: resultados da ACOSOG (Alliace) Z1072. Ann Surg Oncl 2016; 23: 2438-2445.
- Mauri G, Scofienza LM, Pescatori LC, et al. Sucesso técnico, eficácia da técnica e complicações dos procedimentos minimamente invasivos de ablação percutânea guiada por imagem do câncer de mama: revisão sistemática e metanálise. Eur Radiolo 2017; 27: 3199-2110.