Julia Paneque da Costa agora compartilha seus ensinamentos
Falar em câncer não é uma questão muito fácil. Imagine receber o diagnóstico? E se você for uma criança e tiver apenas 12 anos de idade? Até que ponto conseguirá assimilar a gravidade da situação? Segundo a jovem Julia Paneque da Costa, que agora está com 15 anos, ela não entendia absolutamente nada. Até porque, só sentia dor de garganta. Diagnóstico inicial: amigdalite.
“A médica deu um remédio para sete dias, mas não passou. Voltei lá com a minha mãe, que não quis que eu tomasse mais sete dias daquele remédio forte. Daí a doutora pediu mais exames e o de sangue coagulava. Então, pediu para irmos ao Pronto-Socorro”, relembra Julia. Lá, descobriram a doença: Leucemia Linfoide Aguda (LLA).
Imediatamente, indicaram uma transfusão de sangue (concentrado de hemácias), pois ela recorda que estava com apenas 3 g/dL de hemoglobina (quando, na idade dela, seria acima de 12 g/dL) e 96% da sua medula estava “tomada” (infiltrada) pela doença. Em seguida, foi para a internação. Foram três meses bem difíceis, não podia comer algumas coisas que gostava muito, como comida japonesa. Assim, conheceu o ITACI – Instituto de Tratamento do Câncer Infantil, em São Paulo, ligado ao Instituto da Criança da FMUSP onde, posteriormente, recebeu atendimento do Dr. Roberto Plaza, que é médico assistente do Hospital ITACI e também coordena a Pós-Graduação em Oncopediatria do IBCMED. Recebeu alta da terapia em novembro do ano passado e atualmente está curada.
Para quem está enfrentando uma leucemia, Julia é firme: “diria para não desistirem e permanecerem fortes, tanto os pais quanto as crianças”. Ela observa que não se entregou em nenhum momento à doença. “Falava que não tinha”, garante com uma inocência juvenil. Para os meninos e meninas saudáveis, ela pondera: “cuidem com a alimentação”. “Eu deveria ter me alimentado melhor. Não comia. Tive anemia, depois anemia profunda e a leucemia. A médica dizia que o meu colesterol também andava alto”. Julia hoje está no 9º ano do Ensino Fundamental e sonha em ser médica cirurgiã. Daqui para frente, só planos e muitos ensinamentos. “Diria, ainda, para comerem reforçado, para não deixarem faltar (alimento). Tem gente que só come besteira e isso não faz nada bem”, reflete a jovem, com a maturidade de quem já superou uma doença muito grave.
Palavra do Especialista
Por sua vez, Dr. Roberto Plaza é só orgulho! “A Julia é muito determinada”, reconhece. O médico, que é hematologista e oncologista pediátrico, comemora junto com a jovem e sua família o sucesso do tratamento que, em média, leva dois anos e meio. “Os resultados dos últimos exames realizados demonstram que a medula óssea está normal, portanto são muito positivos. Tudo indica que ela está curada e que a doença não vai voltar”, celebra Dr. Plaza, que também será o mediador do “IBCMED Experience Day”, sobre as “Dificuldades do Diagnóstico em Oncopediatria”, no próximo dia 21 de junho.
A Leucemia Linfoide Aguda (LLA) é o câncer mais comum entre crianças. No geral, tem 80% de chance de cura, e o tratamento inclui inúmeras fases de quimioterapia, entre elas: indução, intensificação, consolidação e manutenção”, resume.
Conheça os tratamentos mais indicados para a LLA:
- Indução: o objetivo da quimioterapia de indução é alcançar a remissão, na qual as células leucêmicas não serão mais encontradas em amostras da medula óssea e as contagens de sangue voltarão ao normal. Durante essa fase, cuja duração é de um mês, a criança recebe quatro diferentes agentes quimioterápicos, além de três punções liquóricas espaçadas a cada duas semanas, com injeção de tripla quimioterapia intra tecal para proteger o sistema nervoso central. Entretanto, a remissão ainda não pode ser considerada a cura, propriamente dita. Geralmente, 95% das crianças entram em remissão depois do primeiro mês de tratamento, que é mais intenso;
- Intensificação (Profilaxia do Sistema Nervoso Central): posteriormente, as crianças precisam receber agentes quimioterápicos em dose elevada, que penetram no sistema nervoso central, intercalando com tripla quimioterapia intratecal no líquido cefalorraquidiano, para proteger o Sistema Nervoso Central da invasão de células leucêmicas. O Sistema Nervoso Central é considerado um “santuário”, por isso, precisa ser muito preservado. Assim, a quimioterapia intratecal é administrada por meio de uma punção lombar (onde é feita a coleta do líquor da espinha e injetada a quimio);
Consolidação: em geral, esta etapa costuma ser mais intensa. A quimioterapia é administrada de um a dois meses e o número de células leucêmicas é diminuído. Os medicamentos quimioterápicos são administrados em conjunto para impedir que as células leucêmicas remanescentes se tornem mais resistentes. A terapia intratecal segue sendo conduzida.
Manutenção: caso a leucemia permaneça em remissão, após a fase de consolidação, a terapia de manutenção é iniciada, com medicamentos via oral e intravenosos, além das coletas de líquor com injeção de QT intratecal, a cada 8 semanas. É a fase mais demorada, realizada ambulatorialmente e com duração de um ano e meio.
Fiquem atentos à presença de sinais e sintomas, como relatados pela pequena Julia. Caso apareçam, não demorem para procurar o seu médico e não esperem a doença progredir, pois o atraso diminui as chances de sucesso terapêutico de uma doença grave, mas que tem uma grande chance de cura.
Saiba mais sobre os sintomas do câncer infantojuvenil e a importância do diagnóstico precoce em outra entrevista exclusiva do Dr. Roberto Plaza, clicando aqui.