Como as mulheres conquistaram seu espaço na Medicina?
Para estarem onde estão hoje, as mulheres precisaram de muita luta para terem o seu espaço.
Nos últimos 20 anos, o número de mulheres que exercem a medicina dobrou no Brasil. Elas estão conquistando cargos e lugares que tempos atrás diriam que elas não podiam. Os homens ainda representam a maioria, mas as médicas estão cada vez mais perto de igualar. Segundo a Demografia Médica de 2020, elas já representam 46,6%.
A Demografia Médica de 2020 foi realizada pelo Conselho Federal de Medicina e a Universidade Federal de São Paulo (USP). O estudo divulgou que o Brasil passou a contar com 500 mil médicos, chegando a uma razão de 2,38 médicos por mil habitantes.
Em 2020, as mulheres ultrapassaram os homens no grupo de idade de até 29 anos, representando 58,5%. Já na faixa etária entre 30 e 34 anos, elas continuam como maioria, sendo 55,3%. Com o aumento de mulheres nas faixas etárias mais jovens podemos esperar a igualdade entre os gêneros para os próximos anos.
Como elas entraram na história?
Nascida no Reino Unido, Elizabeth Blackwell emigrou para os Estados Unidos com 10 anos de idade. No território americano, Elizabeth manifestou interesse em estudar Medicina para provar seu ponto de vista, que consistia em acreditar que mulheres podiam prestar os testes necessários e obter um diploma de medicina.
Elizabeth então matriculou-se no Geneva Medical College, em Nova York. Os colegas só admitiram a entrada de uma mulher por acharem que fosse uma brincadeira, então votaram unanimemente para admissão dela. Em 1849, Elizabeth formou-se como a primeira da classe e tornou-se a primeira médica dos Estados Unidos.
Elizabeth inspirou a brasileira Maria Augusta
Em 1860, nascia no Rio de Janeiro Maria Augusta Generoso Estrela, a primeira brasileira a se formar em medicina. Maria desde cedo mostrou interesse em Medicina; aos 13 anos, ao voltar para casa após uma temporada de estudos em Portugal, ajudou a salvar alguns passageiros e membros da tripulação do navio. Tal ato heroico não passou despercebido para Dom Pedro II, que em alguns anos lembraria de Maria.
Elizabeth Blackwell foi a inspiração para Maria estudar Medicina, afinal foi com a história dela que descobriu que mulheres poderiam estudar medicina. A jovem então decidiu estudar no New York Medical College and Hospital for Women, que foi uma faculdade fundada por Elizabeth.
Em 1879, Maria Augusta formou-se em Medicina e tornou-se a primeira médica brasileira. Dom Pedro II decidiu abrir, no mesmo ano, a primeira instituição de ensino superior para mulheres.
A história de Maria Augusta abriu espaço para as jovens brasileiras com a gaúcha Rita Lobato Velho Lopes, que se tornou a primeira médica formada no Brasil, em 1887. Ela defendeu a tese “Paralelo entre os métodos preconizados na operação cesariana”. Outra brasileira que serviu de exemplo para várias mulheres é a baiana Maria Odília Teixeira, que foi a primeira mulher negra a concluir o curso de Medicina.
Elas deram a inspiração para a entrada de outras mulheres na Medicina, assim abrindo portas para grandes descobertas. Por exemplo, o primeiro diagnóstico de AIDS no Brasil foi realizado pela dermatologista Valéria Petri, em 1982. A médica ainda relacionou o sarcoma de Kaposi como uma manifestação da doença, além de outras afecções dermatológicas.
Outro grande exemplo do olhar atencioso de uma médica é Adriana Melo, que foi essencial na descoberta da ligação entre microcefalia e o vírus Zika. Adriana, que atua na área de gestações de alto risco, ficou curiosa sobre como a maioria dos fetos com malformação normalmente vinham de gestantes que tinham manchas avermelhadas. Assim, após uma análise, a médica conclui a relação da malformação com o vírus.