Nesta quarta-feira, dia 31 de julho, comemora-se o Dia Mundial do Orgasmo. Reza a lenda que uma rede inglesa de sex shopfez uma pesquisa na qual identificou que 80% das mulheres tinham dificuldade para atingir o clímax. Diante dessa realidade, resolveram fazer uma campanha para celebrar o orgasmo, chamando a atenção da população para a importância do tema, com o slogan: “atinja, não finja”.
No Brasil, dificuldades em atingir o ápice numa relação sexual também é uma queixa recorrente. Quase metade da população feminina, segundo dados do Prosex, não consegue chegar ao orgasmo na maior parte das vezes ou sempre. É muita mulher sem ter orgasmo nesse país!! Conforme o DSM-V, as taxas de prevalência de transtorno de orgasmo variam, amplamente, de 10 a 42%, dependendo de vários fatores (por exemplo: idade, cultura, duração e gravidade dos sintomas).
O orgasmo é uma experiência psicofísica de curta duração, que dura alguns segundos. Eu sempre faço uma associação com o espirro: há um acúmulo de tensão provocando uma reação física de alívio, só que na área genital. Como uma descarga de tensão sexual é acompanhado de contrações e espasmos, com intensa sensação de prazer e relaxamento. Espirros “encubados” são mesmo uma chatice. Principalmente as mulheres relatam essa frustração de “chegar quase lá”; “estava muito próximo, mas não sei o que aconteceu” e às vezes é difícil precisar: pode ser uma distração por pensamento invasivo (a cabeça que nunca para), uma dificuldade de se entregar para o sexo, falta de conhecimento do corpo, inibição, sem contar fatores biofisiológicos, como o retardo do orgasmo provocado por ação de alguns medicamentos. Devemos lembrar, ainda, que é recente a preocupação com o orgasmo feminino e com o prazer geral das mulheres durante o sexo. Ainda é possível encontrar, por aí, a crença de que “o homem é quem dá orgasmo à mulher” ou que o orgasmo “certo” é aquele obtido através da penetração, sendo que sabemos da importância do estímulo no clitóris para que a mulher atinja o clímax.
Homens também podem ter dificuldade em atingir o orgasmo, mas com frequência ela se apresenta em situações eróticas específicas: tudo ok com a masturbação, mas no envolvimento com a parceria, como diz a nova gíria: dá ruim! Esse tipo de situação mostra como os fatores psicossociais e relacionais podem ser determinantes para provocar desajustes sexuais. Cabe reforçar que a experiência do orgasmo é também subjetiva, variando de pessoa para pessoa e também em cada relação. Às vezes, a excitação é forte, mas o orgasmo curto e seco; noutros dias o pico de excitação demora, mas o orgasmo pode ser mais intenso. Essa variação depende da etapa do ciclo de vida, hormônios, doenças, uso de medicamentos, situações emocionais, saúde da parceria, autoestima, liberdade para sentir prazer, envolvimento emocional, estimulo erótico e práticas sexuais. O conhecimento sobre aquilo que nos impulsiona o desejo e nos excita, bem como a comunicação erótica entre os parceiros é fundamental para favorecer a boa qualidade da vida sexual.
Não é imperativo sempre ter orgasmo, já que a relação sexual envolve tantos outros fatores, como o prazer do toque, das carícias, a extensão do afeto, o ser amado, sentir-se desejado. No entanto, o corpo agradece: um orgasmo libera no organismo substâncias benéficas ao corpo, como a oxitocina e as endorfinas, além da sensação de bem-estar e relaxamento. Super recomendo!
Autora: Ana Canosa é psicóloga. Especialista em Educação em sexualidade e Terapia sexual. Coordenadora do curso de Pós-Graduação em Sexologia Clínica da Faculdade IBCMED. Diretora de publicações da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana (SBRASH)