As doenças cardiovasculares são as que mais matam no mundo. Identificar os fatores de risco e definir as estratégicas para a redução do risco de infarto, AVC ou morte por doença cardiovascular (ou MACE: “major cardiovascular events”) são os objetivos principais das mais recentes Guidelines que abordam prevenção primária de doença cardiovascular.
As que considero muito importante para a leitura do médico são as da Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos (AACE), de 2017, e o do Colégio Americano de Cardiologia (ACC), de 2019.
Todas as principais diretrizes apontam o LDL-colesterol como principal alvo para a redução da doença cardiovascular aterosclerótica (ASCVD) e enfatizam a importância do tratamento do colesterol de lipoproteínas de baixa densidade (LDL-C) em alguns indivíduos para metas menores do que as previamente endossadas e apoiam a medição dos escores de cálcio coronariano e marcadores inflamatórios para ajudar a estratificar o risco em alguns grupos.
As diretrizes da AACE de 2017 são extensas, fornecendo 87 recomendações totais sobre uma ampla gama de cenários clínicos encontrados na prática clínica, mas que têm como foco níveis específicos de LDL-c para categorias específicas de risco, sendo uma adicional de extremo alto risco. As metas de LDL-colesterol, segundo a classe de risco, são: baixo risco: <130; risco moderado e alto risco: <100; muito baixo risco: <70 e extremo risco: <55.
A Guideline do ACC fornece 10 mensagens importantes para a prevenção primária da doença cardiovascular:
1- Estabelecer hábitos saudáveis durante toda a vida;
2- Avaliar o paciente como um todo, considerando também aspectos sociais e a abordagem por uma equipe multidisciplinar;
3- Fazer uma estimativa do risco cardiovascular através do “Lifetime ASCVD Risk”. Esta calculadora estima o risco de morte por doença cardiovascular, IAM ou AVC nos próximos 10 anos. No fim, o paciente pode ser categorizado em uma das quatro opções:
- Baixo risco (<5%);
- Risco Borderline (5-7,5%);
- Risco Intermediário (7,5-20%);
- Alto Risco (>20%).
4- Estabelecer uma dieta saudável com ênfase no aumento de óleos vegetais, nozes e carne de peixe, e na redução da gordura saturada, da carne vermelha e no consumo de sal, e ênfase em manter o peso normal ou, pelo menos, a perda de 5-10%.
5- Praticar exercícios físicos regulares:
- >150 min/semana de intensidade moderada (3-6 MET);
- Ou > 75 min/semana de intensidade forte (>6 MET);
6- Tratar o paciente com Dm tipo 2 com medidas farmacológicas e não farmacológicas;
7- Interromper o tabagismo;
8- A AAS deve ser usada raramente e deve ter seu custo x benefício analisado no grupo de alto risco;
9- A estatina é a primeira linha de prevenção primária em pacientes com LDL > ou = 190 mg/dl, em pacientes com diabetes entre 40-75 anos e naqueles considerados de risco após a estratificação e discussão com o paciente;
10- O controle da pressão arterial é muito importante e, naqueles em uso de medicação, o alvo deverá ser inferior a 130x 80 mm Hg.
Apesar da classe médica especializada ter acesso a publicações muito sérias e estar ciente sobre a importância do combate ao colesterol, assim como da importância e segurança do uso das estatinas, o público leigo necessita de mais informação – não somente sobre os riscos de estar com o colesterol alto, mas também sobre as medidas farmacológicas e não farmacológicas. Por isso campanhas como essa e tantas outras são fundamentais para o esclarecimento da população.
Referências sugeridas para leitura:
– Jellinger PS, Handelsman Y, Rosenblit PD, et al. Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos e Diretrizes do American College of Endocrinology para o manejo da dislipidemia e prevenção de doenças cardiovasculares. Endocr Pract 2017, 23: 1-87.
– 2019 ACC/AHA Guideline on the Primary Prevention of Cardiovascular Disease. Circulation. 2019 Mar 17:CIR0000000000000678. doi: 10.1161/CIR.0000000000000678. [Epub ahead of print]
– “Brazilian guidelines on prevention of cardiovascular disease in patients with diabetes: a position statement from the Brazilian Diabetes Society (SBD), the Brazilian Cardiology Society (SBC) and the Brazilian Endocrinology and Metabolism Society (SBEM). Diabetol Metab Syndr.” 2017 Jul 14;9:53. doi: 10.1186/s13098-017-0251-z.
Autora: Monica Dias Cabral, coordenadora e professora da Pós-Graduação em Endocrinologia da Faculdade IBCMED. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1993, Residência Médica em Clínica Médica e em Endocrinologia pelo Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (IEDE/PUC- RJ), em 1998. Possui Mestrado e Doutorado em Endocrinologia pela UFRJ e Doutorado em Endocrinologia pela UFRJ.